
Publicado por : Associação Ginecologistas | Dia : 10-12-2021 | Gostar Inicie a sua sessão para gostar e partilhar esta dica 1860
KaMaxaquene palco de palestra sobre violência baseada no género
Segundo mulheres empreendedoras do distrito
Mulheres do distrito municipal KaMaxaquene, na cidade de Maputo, beneficiaram recentemente de uma palestra no quadro da Campanha dos 16 dias de Activismo pelo fim da Violência baseada no Género. O evento, organizado pela Associação Kulani, beneficiou membros da Associação para o Desenvolvimento de Maxaquene (ASSODEMO) e decorreu sob lema “Pinte o mundo de laranja: pare com a violência contra as mulheres e raparigas”.
Durante a conversa, debateu-se diversas situações que levam homens a cometerem vários tipos de violência contra a mulher e a rapariga, tendo se destacado que a fraca condição financeira e a falta de emprego são os maiores motivos que expõem mulheres a situações de vulnerabilidade, tendo que se sujeitar a qualquer tipo de violência, tudo para conseguir sobreviver.
Membros da ASSODEMO durante o encontro
A título ilustrativo, falou-se de casos em que mulheres, depois de denunciar casos de violência física perpetrada pelo marido, são as primeiras a se fazerem ao posto policial para apelar à liberdade do agressor, com a justificativa deste ser o único que garante o sustento da família.
Entretanto, há outros casos de violência relatados no encontro, como as que envolvem menores de idade. Ficou claro que crianças ainda são vítimas de espancamento, maus-tratos, entre outros males, facto que faz com que as petizas fujam de casa e encontrem na rua um refúgio.
AMOG fez-se presente no evento
A AMOG foi convidada a participar na ocasião para falar sobre a importância do planeamento familiar e da possibilidade de interromper a gravidez indesejada, que é um dos factores inibidores para a realização plena dos direitos sexuais e reproductivos e é também descrita como uma das facilitadoras da perpetuação do ciclo de violência baseada no género, de acordo com os testemunhos das mulheres empreendedoras da associação ASSODEM.
Eunice Themba, Coordenadora do Projecto Advocacia Pelo Aborto Seguro, durante a sua intervenção
Nesta sequência, a Coordenadora do Projecto Advocacia Pelo Aborto Seguro, Eunice Themba, enfatizou a importância de debater-se sobre os direitos sexuais e reproductivos de modo a, gradualmente, transformar as relações de poder e gerar horizontes das mulheres. Igualmente, fez entender que planificar a sua sexualidade é uma vantagem competitiva na luta contra o fim da violência de género. Neste sentido, destacou que se deve começar a pensar no número de filhos a ter, como forma de reduzir a dependência para com o homem. “Existe o planeamento familiar e temos de levar nossas crianças para o hospital. Quando a menor estuda enquanto já tem bebé, não aprende bem, a mente dela já está bloqueada e não vai competir com as outras que estão totalmente focadas na escola”.
Homens estão a recorrer à violência psicológica
Jorge Chongo, ponto focal de Violência Baseada no género no KaMaxaquene, do Centro de Atendimento às Vítimas de Violência, explicou que se tem realizado palestras ao nível do distrito KaMaxaquene como forma de conscientizar a população no combate a todo tipo de violência. “No nosso distrito tem havido muita violência e muitas dessas pessoas a cometem por pensar que é um direito, porque se sentem que com o lobolo comprou a parceira”.
Jorge Chongo, ponto focal do Centro de Atendimento às Vítimas de Violência em KaMaxaquene,
auscultando uma das empreendedoras de KaMaxaquene
Segundo disse, a ideia segundo a qual a mulher é propriedade do homem dificulta a vida das mulheres, contudo, estão a registar efeitos positivos das palestras e trabalho de sensibilização porta a porta que se tem feito ao nível distrital. “Nós percebemos que as mulheres sofrem por causa da pobreza. Por isso há incentivo para que as senhoras criem pequenos negócios em nome da liberdade. Muitas mulheres têm medo de meter queixa contra os agressores por causa desta questão”.
Apoio psicológico e poupança
Violeta Alexandre, presidente da ASSODEMO, explicou que nos últimos meses se tem registado mais casos de violência contra menores, facto que preocupa a todos, porque muitos menores têm abandonado as casas para viver na rua.
Violeta Alexandre, presidente da ASSODEMO
Disse igualmente que as mulheres têm sido vítimas. Para minimizar o impacto, para além do apoio psicológico, há um plano de poupança para que mulheres possam ter onde recorrer para fundos essenciais para iniciar um negócio. “Mas não esquecemos de dizer que devem denunciar. Embora muita gente seja dependente, a ideia é que com base nas palestras possamos consciencializar as pessoas a ter o hábito de denunciar, sempre que forem vítimas de violência”.
Fui ao lar aos 14 anos
― Milagrosa Tembe, vítima de violência
Milagrosa Tembe, jovem de 23 anos de idade, esteve no local da palestra para dar o seu testemunho sobre violência física e psicológica. Segundo disse, foi ao lar aos 14 anos, o seu relacionamento gerou uma criança, abandonou a escola, mas a dado momento o seu parceiro começou a agredi-la. “Além de me bater, trazia outras mulheres para casa. Fui para o lar e nem ganhei nada com aquilo, por isso o meu conselho é que as meninas devem tomar cuidado e estudar antes de tomar decisões erradas e que se vão arrepender para o resto da vida” ― disse Milagrosa Tembe.
Milagrosa Tembe durante a sua intervenção
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