Publicado por : Associação Ginecologistas | Dia : 09-07-2021 | Gostar Inicie a sua sessão para gostar e partilhar esta dica 917
Jornalistas capacitados sobre Aborto Seguro
No âmbito do Projecto pelo Aborto Seguro da AMOG
A Associação Moçambicana de Obstetras e Ginecologistas (AMOG) juntou, no dia 29 de Junho, diferentes jornalistas num workshop com vista a garantir-lhes ferramentas e informações essenciais sobre o aborto seguro bem como os detalhes da Lei do Aborto. Foram no total 71 jornalistas capacitados, divididos da seguinte forma: 21 em Maputo; 10 em Niassa; 10 na Zambézia; 10 em Tete; 10 em Manica; e 10 em Sofala.
Usando a plataforma Zoom, on-line, os jornalistas de diferentes províncias acompanharam em salas de reuniões, as comunicações que eram feitas a partir do Sindicato Nacional de Jornalistas, em Maputo. “Promover uma prática de Ginecologia e Obstetrícia responsável e segura de modo a reduzir a mortalidade materna em Moçambique” foi o lema do workshop que, além de jornalistas, contou com quadros da saúde.
Falando aos jornalistas, em jeito de abertura do evento, a presidente interina da AMOG, Hermengarda Pequenino, disse ser importante que a classe da comunicação social se engaje na disseminação da Lei de aborto por forma a garantir que as mulheres que não estejam preparadas para a maternidade se sintam livres de recorrer ao aborto seguro em unidades hospitalares. “O aborto inseguro é uma das causas de morte materna em vários cantos do nosso país. Pedimos, portanto, que os jornalistas nos ajudem a divulgar a lei do aborto. Isto permitirá que mais mulheres estejam conscientes dos seus direitos… salvará vidas”.
Jornalistas durante a actividade
Fundada em 2006, a AMOG, que perfila como uma das principais defensoras da descriminalização do aborto em Moçambique, foi criada com o objectivo de promover saúde com qualidade, num país onde as mulheres têm necessidades não satisfeitas em questões de Saúde Sexual e Reproductiva, incluindo o acesso aos métodos contraceptivos e serviços de Aborto Seguro.
"Não se pode julgar a decisão de abortar."
― António Bugalho, médico ginecologista e obstetra
O renomado ginecologista e obstetra, Professor António Bugalho, a quem coube o papel de falar das Boas Práticas de Ginecologia e Obstetrícia e Atendimento Humanizado às mulheres que queiram abortar, também integrante da AMOG, afirmou que a decisão de fazer aborto é sempre uma situação dramática na vida da mulher devido às dúvidas que esta tem acerca do seu futuro reproductivo.
Por conta disto, “temos de acarinhar as mulheres que optam por este caminho. O facto de solicitarem um aborto não quer dizer que não queiram mais ter filhos. Pode significar que não queiram ter aquela gravidez”, sublinhou.
Professores António Bugalho e Fernanda Machungo
Aliás, o Prof. Dr. Bugalho explicou igualmente que tem uma percentagem elevada de mulheres religiosas que solicitam os abortos. Este facto “não faz delas menos crentes. É preciso respeitar as decisões de todas as mulheres”.
Em relação aos profissionais de saúde disse ser importante que disponibilizem um atendimento humanizado, a luz do futuro, da protecção da capacidade reproductiva das mulheres. “O médico que trata destes assuntos não deve ter julgamentos prévios. O Diploma ministerial, aliás, diz que uma Mulher nesta situação tem de ser acolhida com carinho e compaixão a nível dos serviços”.
"Mulheres em uniões estáveis são as que mais fazem aborto"
― Emília Matola, médica ginecologista e obstetra
“Toda a mulher com uma gravidez indesejada deve ter acesso ao aborto seguro seja por referência própria ou encaminhada por um profissional de saúde”, explicou Emília Matola, uma das oradoras do workshop.
Dra. Emília Matola interagindo com uma jornalista
A médica disse ser fundamental respeitar os direitos sexuais e permitir que cada um planeie quando vai criar a sua prole. “É preciso lembrar que há casais que mesmo se prevenindo acabam tendo situação de gravidez indesejada. Os métodos contraceptivos não são 100 por cento eficazes. Há que deixar as pessoas decidirem se querem ou não ter o filho sem as julgar”. Outro elemento curioso trazido pela médica foi que a maior parte das mulheres que solicitam por um aborto estão em uniões estáveis.
Emília Matola frisou ainda que todos hospitais do país, desde que tenham maternidade, podem realizar abortos tendo em conta que as enfermeiras estão a ter formação neste quesito.
“Se tivermos mulheres a morrer por complicações de ou durante a gravidez ou até 40 dias após o parto é considerada morte materna. Treze mulheres a cada 100 terão morrido devido a complicações do aborto inseguro”, sublinhou. “Isto acontece porque elas, as mulheres, não são acarinhadas pela sociedade quando optam pelo aborto. E elas se sentem obrigadas a recorrerem ao aborto inseguro”.
Presidente Interina da AMOG Hermengarda Pequenino e jornalista Belmiro Adamugy
durante entrega de certificados de participação
"É preciso facilitar o acesso à informação."
― Belmiro Adamugy, jornalista sénior do semanário domingo
Encarregado de falar da Lei de Imprensa, o jornalista Belmiro Adamugy afirmou ser importante que os jornalistas tenham ética no exercício das suas funções.
Segundo disse, a nova Lei de Imprensa, para além de salvaguardar aspectos interessantes da profissão jornalística, foca-se igualmente na questão dos deveres dos jornalistas, mas “neste assunto chamo à coação o pessoal da saúde. Muitas vezes no exercício da nossa profissão temos tido imensas dificuldades para ter acesso a informação em tempo oportuno. Isso acaba conduzindo, à alguma imprensa, a publicar informações sem o devido contraditório. Queria pedir que revissem um pouco as formas como lidam com a imprensa porque, às vezes, esse rigor, que deriva da ética e deontologia da própria profissão, acaba propiciando ou criando espaço ou para que haja erros, ou inclusive a falta de divulgação de informações importantes”.
"Foi uma óptima experiência."
― Afirmam jornalistas
Alguns dos jornalistas participantes do workshop louvaram a iniciativa considerando que trouxe à luz os verdadeiros contornos da Lei do Aborto.
Momento de entretenimento com Yolanda Kakana
Crimilda Cumaio, por exemplo, achou o workshop interessante a medida em que pôde perceber algumas dificuldades que a AMOG enfrenta na divulgação e disseminação da Lei do Aborto bem como as consequências da falta desta informação por parte de várias mulheres, sobretudo as de pouca escolaridade.
“Mais importante foi perceber, definitivamente, que nós os jornalistas somos igualmente essenciais e chamados a ajudar a salvar vidas de várias mulheres e famílias. Que temos de divulgar mais sobre o aborto seguro o que permitirá que mais mulheres saibam que este é um direito delas”, frisou Crimilda Cumaio.
Adilia Munguambe, outra jovem jornalista, deu também nota positiva à AMOG pela iniciativa de promover um workshop sobre o aborto seguro.
Aliás, “confesso que tinha pouquíssima informação sobre o aborto seguro bem como a sua importância. Mas depois da formação senti que ganhei algo mais”, disse Adília Munguambe. No entanto, defendeu ainda que a AMOG deve continuar a investir na divulgação da Lei. “Mas aqui também nós os jornalistas temos de ajudar fazendo, por exemplo, notícias e reportagens sobre as consequências do aborto inseguro que é muito comum bem como algumas sobre o aborto seguro”, sentenciou.
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