Publicado por : Associação Ginecologistas | Dia : 23-07-2021 | Gostar Inicie a sua sessão para gostar e partilhar esta dica 1673
Hospital Geral José Macamo debate a problemática do aborto
Numa actividade de Clarificação de Valores e Transformação de Atitudes
Profissionais de Saúde do Hospital Geral José Macamo (HGJM) beneficiaram recentemente de uma capacitação em matérias ligadas à redução da mortalidade materna por complicações de Aborto Inseguro. A formação contou igualmente com a presença da direcção do hospital e representantes do Comando Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM).
A tónica da discussão girou em torno da despenalização do aborto, uma vez se ter percebido que continua a matar muitas mulheres, sobretudo adolescentes e jovens, que, ao procurarem uma unidade sanitária para a interrupção de gravidez, acabam por não ver os seus anseios satisfeitos pelos profissionais da saúde, o que lhes faz optar por mecanismos que colocam em risco a sua vida, como a prática do aborto inseguro.
Assim, a médica ginecologista Emília José Gonçalves, oradora e representante da Associação Moçambicana de Obstetras e Ginecologistas (AMOG), disse que a presença de uma paciente na unidade sanitária deve ser vista como oportunidade sublime para informar a utente sobre todos os procedimentos úteis e necessários para evitar um aborto inseguro e que coloque em risco a sua vida. “Nós como médicos não devemos julgar. Quando a mulher chega ao hospital à procura dos nossos serviços, devemos aproveitar a oportunidade para fornecer os serviços de planeamento familiar”.
Dra. Emília Gonçalves durante a sua intervenção
A médica, que falou das consequências do aborto, fez questão de destacar os problemas psicológicos que podem advir da realização de um aborto inseguro, quando as unidades sanitárias podiam oferecer serviços com melhor qualidade, bastando para tal, combater-se a discriminação e os objectores de consciência. “Os direitos sexuais são humanos e inegáveis. Negar uma mulher um aborto seguro é limitar o direito de exercer a sua autodeterminação de forma plena. Nós nunca devemos ser a barreira”.
“Um profissional é suficiente para autorizar a realização do aborto.”
― Dr. Nelson Talhada, membro da AMOG e funcionário do HGJM
Para a realização do aborto no Hospital Geral José Macamo a mulher deve reunir os requisitos plasmados na lei que despenaliza a interrupção da gravidez. Para facilitar o serviço, o HGJM estudou mecanismos para evitar processos burocráticos, evitando desta feita a fuga de pacientes que acabam recorrendo ao aborto inseguro.
“Um profissional é suficiente para assinar o documento que autoriza a realização do aborto, uma medida interna que serve para facilitar a vida dos utentes e garantir cada vez mais a privacidade dos pacientes”, explicou o Dr. Nelson Talhada.
Ainda na formação, foi possível discutir-se o envolvimento das autoridades policiais na resolução de casos que constituem crime, como, por exemplo, as situações em que uma menor de 17 anos aparece no hospital grávida de um indivíduo maior de idade. Nesse tipo de caso, o sector da saúde presente na formação entende que se deve estudar melhores mecanismos de colaboração junto às autoridades policiais, por forma a tornar o trabalho de todos os sectores facilitado.
Dr. Nelson Talhada durante a sua intervenção
"Sector da Saúde é porta de entrada de processos-crime."
― Mariza Timóteo, gabinete da família e menores vítimas de violência, do Comando Geral da Polícia da República de Moçambique ao nível da província de Maputo
Para Mariza Timóteo, não se deve fechar os olhos para situações em que há sinais claros de violação dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher. Acrescentou que a situação piora quando se trata de uma menor grávida.
Com efeito, instou a colaborar com a polícia em situações claras de ter havido crime. “Estamos a tratar de crianças. Alguma coisa deve ser feita, temos postos policiais nos hospitais. Se nós não tivermos informação não teremos como agir. O importante é haver uma coordenação entre os nossos sectores. Tem que se criar mecanismos de referência para que a colaboração seja clara”.
A representante do Comando Geral da PRM diz que a polícia está consciente que há muitos casos que chegam ao hospital e que necessitam de uma intervenção da polícia.
“Sabemos que este sector é das principais portas de entrada O nosso interesse é seguir os processos-crime que ocorrem nos casos das vítimas que chegam ao hospital, afinal de contas há muitas menores de idade que ficam grávidas de um indivíduo adulto e nós temos de seguir esses casos, porque sabemos também que foram violados alguns direitos da menor. Sabemos que estamos diantes de um crime, porque não é consentida nenhuma relação sexual com menores de 17 anos”.
Oficiais do Comando Geral da PRM.
"Temos de ter cautela ao envolver a polícia."
― Mariamo Mário, gabinete à vítima de violência baseada no género do HGJM
A representante do gabinete que atende vítimas de violência baseada no género diz que tem recebido casos de pacientes que chegam ao hospital com claros sintomas de violência. Há também menores de idade grávidas a solicitar interrupção de gravidez, mas tem de haver cautela ao se envolver a polícia de forma directa.
“O gabinete sempre tem colaborado com as autoridades policiais quando nos chegam casos de menores que estão grávidas. Mas temos um problema: é que quando se mete a polícia no caso, muitas vezes a paciente foge do hospital. O que acontece é que a paciente está preocupada em resolver o problema de saúde que tem. Por isso temos de encontrar formas de nos relacionarmos com a polícia, criar mecanismos de colaboração para não assustar as pacientes e resolver essas situações em que há crime envolvido na gravidez”.
Profissionais do HGJM
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