Publicado por : Associação Ginecologistas | Dia : 24-09-2021 | Gostar Inicie a sua sessão para gostar e partilhar esta dica 1280
AMOG recebida pela Escola Secundária de Lhanguene
Em continuidade da série de clarificações de valores nas escolas
A Escola Secundária de Lhanguene acolheu recentemente uma palestra alusiva à Clarificação de Valores e Transformação de Atitudes em Saúde Sexual e Reproductiva, sendo que a mensagem era principalmente destinada aos adolescentes e jovens daquela instituição para que fiquem esclarecidos sobre diversos aspectos relacionados à saúde sexual, com maior destaque para o Aborto Seguro.
O debate, organizado pela Associação Moçambicana de Obstetras e Ginecologistas (AMOG), contou com a participação do Dr. Agostinho Daniel (AMOG) e Dra. Julânia Armando (IPAS), na qualidade de oradores, da Dra. Hermengarda Pequenino, presidente interina da AMOG, e dos professores da escola.
Na ocasião, o médico ginecologista Agostinho Daniel explicou a importância do uso dos diversos métodos de planeamento familiar, tendo frisado que a prática de relações sexuais protegida não só pode evitar a gravidez indesejada, quando usado o preservativo de forma correcta, assim como protege de doenças sexualmente transmissíveis, como é o caso do HIV. Igualmente, fez saber que para além do preservativo, é aconselhável que se usem outros tipos de planeamento familiar. Sendo assim, o especialista deixou claro que não há contraindicação nenhuma em, por exemplo, colocar implante e ainda optar pelo uso do preservativo. “É uma questão de dupla protecção. Você se protege da gravidez indesejada e ao mesmo tempo de possíveis doenças.”
Dr. Agostinho Daniel durante a sua interação com os estudantes
Ainda nas questões relativas aos métodos de planeamento familiar, os alunos quiseram saber se constituía verdade que o uso do Dispositivo Intrauterino (DIU) é prejudicial à saúde. “Qualquer menina de qualquer idade pode usar o DIU. A ciência já diz isso, o que se deve fazer é controlar algumas reacções que podem não ser normais”, explicou o médico Agostinho Daniel.
No que concerne à legalização do aborto seguro, a oradora Julánia Armando, do IPAS, deixou claro que o aborto é legalmente permitido pela lei, desde que seja feito dentro dos parâmetros estabelecidos pelo legislador. “A lei sobre o aborto já existe e vocês devem usá-la a vosso favor, porque surgiu para evitar que mais meninas como vocês se desviem dos seus objectivos por causa de uma gravidez não planificada. Mas atenção, não queremos com este encontro promover abortos em massa, apenas queremos que fiquem conscientes sobre a possibilidade de usufruírem deste direito, porque a lei permite e para que optem por um aborto seguro, sempre”.
Vídeo resumo da actividade
Outra questão que foi colocada pelos alunos tem que ver com a venda de medicamentos nas farmácias sem prescrição médica. Os oradores trataram de informar aos alunos que só devem comprar medicamentos para cuidados de aborto mediante indicação médica, sob risco de incorrer para consequências nefastas e que podem causar danos irreparáveis à saúde. Os oradores foram unânimes ao afirmar que em condições normais deve se denunciar qualquer venda desses medicamentos sem prescrição. “Não façam isso. Usem o vosso tempo para ir à um médico e de lá vão poder sair com uma receita para a compra de fármacos. Automedicação, não”, sublinhou o Dr. Agostinho Daniel.
Florinda Ricardo durante o seu testemunho
“Tive que deixar de ir à escola por causa da gravidez.”
― Florinda Ricardo, testemunha
A palestra contou com a presença de Florinda Ricardo, uma jovem que prestou o seu testemunho com relação à gravidez indesejada. Hoje, mãe de uma menina de um ano e poucos meses, disse que está orgulhosa de se ter tornado mãe, mas que a vida dela mudou muito, sendo que uma das coisas que teve de prescindir é a escola, porque precisava de trabalhar para garantir o sustento da filha.
“Tenho 24 anos. Quando engravidei o meu namorado me abandonou. Fiquei isolada, não sabia o que fazer, como encarar os meus pais. Agora sou obrigada a trabalhar como empregada doméstica e as coisas não são fáceis. Estou a pagar pelos meus erros, não ouvi os meus pais. Agora o que mais desejo é voltar à escola, continuar a lutar pelas minhas metas. Digo às meninas para que não se enganem com promessas e que se cuidem. Filhos farão no tempo certo”.
Entrega de certificado pela Dra. Hermengarda Pequenino à Directora Adjunta Laura Nhambe
“Reduziu bastante o número de meninas grávidas.”
― Laura Nhambe, directora-adjunta da Escola Secundária de Lhanguene
A direcção da Escola Secundária de Lhanguene disse que o número de meninas que aparecem grávidas reduziu bastante nos últimos anos, tudo graças ao esforço que a instituição tem vindo a fazer no sentido de garantir com que a informação sobre saúde sexual e reprodutiva chegue aos alunos. Assim, a escola possui um centro de aconselhamento, onde os alunos se dirigem para obter escalecimentos.
“Como escola temos feito palestras, mas nunca é demais ter especialista para explicar, em particular, às meninas. A parte teórica nós até podemos falar, mas a prática precisamos desses especialistas. É mais-valia para a escola e meninos. Temos mais meninas na escola, estão numa idade de afirmação, então se não tiverem orientação, podem acabar por cometer falhas”.
Este ano só houve dois casos de meninas que se apresentaram grávidas, o que revela uma redução, quando comparado à outros anos. “Quando isso acontece nós sensibilizamos que não é o fim e que a menina deve saber se cuidar. Temos conseguido controlar, houve tempos em que o número ia até 8 meninas”.
Dra. Julânia Armando (IPAS) durante a sua interação com os estudantes
“Mais divulgação da lei.”
― Julânia Armando, IPAS
A jurista Julânia Armando explicou que a grande batalha no quesito aborto seguro já foi vencida. A lei que despenaliza a prática do aborto já existe, o que falta agora é a divulgação.
“Neste momento temos apenas de ser agressivos na divulgação. Levar a lei para mais gente, continuar a fazer este trabalho que estamos a fazer nas escolas, de forma a que, sobretudo as raparigas, fiquem consciente disto. Depois temos de ver se conseguimos entrar nas comunidades para dialogar sobre esta problemática. Por agora penso também que os meios de comunicação social podem ajudar na divulgação de informação para que possamos reduzir o número de mortes por conta do aborto inseguro.”
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